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quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Desde 2008

Jornal de Turismo – 25/09/12 – 11h38
OPINIÃO - As soluções para a aviação foram dadas em 2008, só que ninguém quis prestar atenção
Cláudio Magnavita*
A procura de um novo modelo para as concessões dos aeroportos do Galeão, no Rio e de Confins, em Minas Gerais, é uma
correção de rumo necessária. O resultado da primeira rodada terminou entregando algumas joias da coroa da Infraero para
operadores menos qualificados do que a estatal brasileira.
A grande ironia é que, agora, ficou provado que o modelo defendido pelo ex-presidente da Infraero, Sergio Gaudenzi é o que
devia ser adotado desde o primeiro momento. A ideia dele era transformar a Infraero na "Petrobras dos Aeroportos". Aumentar
o capital da estatal e permitir a entrada de novos sócios de peso, inclusive de operadores internacionais.
A lucidez de Gaudenzi resultou em um embate com o então ministro da Defesa, Nelson Jobim, que, apadrinhado pelo
presidente Lula, resolveu seguir um modelo diferente. O ex-presidente da estatal traçou em detalhes as bases de um upgrade
para a Infraero que, depois do fiasco da concessão de Viracopos, Brasília e Guarulhos, é agora perseguido pela presidente
Dilma Rousseff.O Brasil precisa ter memória e resgatar as ideias que foram abatidadas pelo oportunismo político. Precisamos também ter instrumentos que punam os maus gestores, que deixam um legado de sandices nas suas passagens pelo serviço público.
O caso dos aeroportos é emblemático. A Infraero precisa ter receitas fortes dos aeroportos principais para manter a operação dos aeroportos deficitários e que não atraem o interesse da iniciativa privada. Essa tese foi defendida por Gaudenzi com fevor e o modelo que transformaria a Infraero na "Petrobras dos Aeroportos" foi desenhado em detalhes. Mas o que ocorreu na época?
Jobim assumiu a defesa substituindo Waldir Pires, o fiel avalista de Gaudenzi. O ministro decidiu em uma jogada midiática "ordenar" o sistema aéreo, abalado por dois grandes acidentes, uma operação padrão dos controladores de voo e pelo colapso operacional de algumas companhias aéreas.
Definitivamente o setor aéreo foi um dos calcanhares de aquiles do Governo Lula e responsável pelas avaliações mais negativas da sua gestão. A carta branca dada a Jobim foi outorgada no desespero, mas, na prática, ele nada fez, a não ser abater aqueles que desenhavam soluções republicanas e até corajosas e se recusavam a participar do jogo midiático do novo ministro. Gaudenzi na Infraero e Milton Zuanazzi na Anac foram injustamente imolados em praça pública, a serviço da satisfação da mídia.
Todas as teses que foram defendidas por Zuanazzi, inclusive na Audiência Pública do Congresso (onde tudo é registrado e documentado nos detalhes), contrariavam a solução sempre midiática de Jobim, que não resolvia os problemas a médio e longo prazo.
Na Anac, ele colocou a neófita em aviação Solange Vieira e na Infraero infincou o seu chefe de gabinete Murilo Barbosa.
As soluções apontadas por Gaudenzi em 2008 - e que agora são ressucitadas pela presidente Dilma e pela ministra da Casa Civil Gleise Hoffmam - foram jogados no lixo.
A invenção do ministro Wagner Bittencourt para dirigir a Secretaria de Aviação Civil (SAC), realizada através de um convite açordado de Luciano Coutinho, presidente do BNDES e então chefe de Wagner no banco, resultou em uma Secretaria que teve dificuldades de compreender o seu peso estratégico no Governo Dilma, já escaldada pelos problemas herdados do Governo Lula no setor. Só que o problema deixou de ser da Defesa e foi levado para o Gabinete da Presidência, onde foi lotada a nova Secretaria. A responsabilidade política ficou maior ainda.
O curioso é que Coutinho deveria ter se declarado impedido de fazer esta indicação, já que, antes de assumir a presidência do BNDES, tinha trabalhado como arquiteto da fusão da TAM com a Varig. Ou seja: estava a serviço dos principais beneficiados com a nova SAC.
Como pau que nasce torto morre torto, o modelo de uma solução para o setor aéreo no Governo Dilma herdou os mesmos vícios do Governo Lula e o resultado pífio da concessão da primeira leva de aeroportos foi enervante.
Se o Governo olhar para trás, verá que tanto Gaudenzi quanto Zuanazzi pareciam ter bola de cristal. O modelo desenhado pelo ex-presidente da Infraero para a estatal chega agora com quase quatro anos de atraso e as soluções apontadas por Zuanazzi estão sendo adotadas como uma solução ideal.
Ainda sobre aviação, o Governo precisa acender luzes de alertas urgentemente e equilibrar uma delicada equação. O prejuízo acumulado no último trimestre pelas três maiores empresas do País (TAM, Gol e Azul) ultrapassa R$ 1,7 bilhão. São poucos os setores produtivos que podem sangrar desta forma.
Os números do próximo trimestre também serão assustadores. A sensação é que a aviação brasileira está tendo a sua saúde financeira esfarelada novamente. Perdemos a Varig, a Transbrasil e a Vasp por razões parecidas e agora o filme está se repetindo. As três saíram e foram substituídas por empresas sadias e que pagavam seus tributos em dia. Agora assistimos uma reedição de mudança de um cenário. Deixamos de ter empresas sadias (sem trocadilhos com a origem da Transbrasil) e passamos a ter empresas doentes.
Será que o Governo só vai se mexer quando elas forem para a UTI?
A desoneração da folha de pagamento foi um primeiro passo. Aliás, aí que está o paradoxo que nos referimos antes. Esta desoneração rubricada deve ser acompanhada da garantia de empregos. Desonerar a folha e ao mesmo tempo demitir é suicídio político.
É preciso ação imediata. Menos filosofia e mais medidas emergencias. A aviação será um calo para todos os governos se alguns problemas não forem resolvidos, entre eles a questão da variação cambial, que deixa as empresas brasileiras extremamente vulneráveis.
Se o novo modelo de concessão não preservar a saúde financeira da Infraero, empresa que tem uma cultura e um corpo técnico exemplar, entraremos em um quadro de caos total. Empresas aéreas doentes e um sistema aeroportuário falido. Neste quadro, o País entra em colapso. Para resolver o modelo dos aeroportos, a ministra Gleise deveria chamar Sergio Gaudenzi para uma conversa ao pé de ouvido e, na questão da Aviação, avaliar o estudo apresentado por Zuanazzi no Congresso, perante um visível ministro da Defesa constrangido.
Cláudio Magnavita é conselheiro Titular do Conselho Consultivo da Agência Nacional de Aviação Civil

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Marcuss Silva Reis