O sol já dourava os telhados do Rio de Janeiro em um verão dos anos 90 quando o velho Navajo, carinhosamente apelidado de Navajozauro, alinhou na cabeceira e ganhou os céus. Destino: Araçatuba, com passagem por São Paulo. A bordo, três homens experientes:
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Comandante Barros, calmo como o céu de brigadeiro;
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Copiloto Silva, jovem e dedicado;
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João, o mecânico de confiança, com mãos precisas e faro apurado para os segredos da máquina.
Um Voo Perfeito — Quase
O tempo era bom em rota e no destino. Visibilidade excelente, céu limpo, vento quase nulo. Voar naquele dia era um prazer.
Antes da decolagem, quatro dos seis tanques haviam sido abastecidos, garantindo mais de uma hora e meia de autonomia — folga suficiente para qualquer eventualidade. O Navajozauro voava solto, seus motores roncando firme, como se quisesse provar que ainda era digno dos céus.
Algo Está Errado
Na aproximação para Congonhas, quem estava nos comandos era o jovem Silva. Concentração total, comunicação clara com o controle. Tudo corria como planejado, até o momento crucial:
— Trem em baixo, solicitou Silva.
O som do sistema hidráulico respondeu. Duas luzes verdes se acenderam no painel: nariz e roda esquerda. Mas a terceira... permaneceu apagada. A luz da roda direita se recusava a dar sinal de vida.
A tensão ocupou a cabine como um passageiro inesperado.
— Comandante, sem luz do trem direito — reportou Silva, mantendo a calma.
— Entendi. E agora, o que devemos fazer? — perguntou Barros, sereno como sempre.
— Declaramos emergência. Melhor pousar aqui em Congonhas mesmo — respondeu o copiloto.
João, com seu jeito direto, sugeriu:
— Se quiserem minha opinião, a gente segue pra Araçatuba. Lá é oficina. Pousamos sem chamar atenção, resolvemos tranquilos, sem burocracia.
Barros olhou para o copiloto.
— A decisão é sua, Silva.
— Vamos pousar aqui.
— Já havia decidido isso também — respondeu o comandante, com um leve sorriso.
Emergência Declarada
Barros pegou o microfone e, com voz firme, declarou:
— Congonhas, Navajo Papa-Tango Bravo Kilo Alfa declara emergência. Falha no trem de pouso direito. Solicitamos prioridade de pouso e posicionamento dos bombeiros.
O procedimento de emergência foi iniciado com precisão. Tentaram de tudo:
Recolher e baixar novamente o trem, trocar a lâmpada da indicação, bombear pressão manualmente, testar circuitos. Nada fazia a teimosa luz verde da roda direita acender.
Combustível não era problema. Mas o tempo emocional da tripulação já pesava. Era hora de confiar na experiência.
O Pouso que Virou História
Na final para a pista 17R, Barros avisou:
— Agora é comigo. Tô assumindo os comandos.
Silva acenou, pronto para sua tarefa.
— Cruzando a cabeceira, eu corto os dois motores e coloco os magnetos em OFF.
A cidade assistia em silêncio. Os bombeiros já estavam perfilados à beira da pista. O Navajo cruzou a cabeceira. Silva cumpriu o combinado. Os motores se calaram. O avião planava como uma folha levada com propósito.
Ao toque, o trem que estava apenas semi-abaixado encaixou de vez, travou firme. O pouso foi perfeito — suave, redondo, quase poético.
A aeronave parou em segurança. Nenhum dano. Nenhum susto a mais.
A Jornada Continua
Após os agradecimentos ao controle, a tripulação refez o plano de voo. Decolaram novamente para Araçatuba, dessa vez com o trem de pouso baixado o tempo todo, por segurança e por respeito à velha máquina.
Chegaram tranquilos. Entregaram o Navajozauro direto na oficina, como sugerido por João.
Entre Céu, Oficina e Memória
Naquele dia, comandante Barros, copiloto Silva e o mecânico João escreveram mais um capítulo silencioso da aviação. Daqueles que a gente guarda entre um hangar e outro, entre um voo e outro — como se o céu soubesse que as melhores histórias não precisam de alarde, só de quem saiba contá-las.
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Marcuss Silva Reis