.Introdução
Hoje, conversando com uma pessoa, ela me perguntou sobre o acidente que vitimou o ministro Teori Zavascki, ocorrido em Paraty no ano de 2017. Não foi a primeira vez que percebo esse interesse: muitas pessoas, em diferentes momentos, já demonstraram curiosidade e me perguntam a respeito desse acidente que marcou a história recente do Brasil.
Diante disso, achei por bem registrar aqui a minha opinião pessoal, baseada na minha vivência e atuação profissional na aviação. O objetivo não é apontar culpados, mas refletir sobre fatores de risco e possíveis medidas de mitigação que poderiam contribuir para evitar tragédias semelhantes.
Não me limitei a comentar apenas sobre Paraty. Outra localidade também me chama atenção: Ubatuba, que apresenta condições operacionais parecidas e que, em determinados períodos do ano, enfrenta riscos elevados devido ao aumento do tráfego aéreo em um aeródromo não controlado.
Deixo consignado que o que segue são opiniões pessoais de quem atua na aviação, sempre com o propósito de colaborar para o debate em torno da segurança de voo.
Ubatuba: histórico de acidentes e riscos sazonais
O Aeroporto Estadual Gastão Madeira (SDUB), em Ubatuba (SP), é um aeródromo não controlado, sem torre de controle de tráfego aéreo. Em épocas de alta temporada, quando cresce a movimentação de aeronaves executivas e táxis-aéreos, o risco aumenta.
Entre 2016 e 2025, Ubatuba registrou diversos acidentes e incidentes aeronáuticos:
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2016 – Cessna 172 Skyhawk: mau funcionamento, excursão de pista.
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2017 – Cessna Citation Mustang C510: excursão de pista.
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2017 – Piper PA-28: incidente grave com excursão de pista.
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2018 – Pilatus PC-12: problemas técnicos.
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2019 – Ultraleve: excursão de pista.
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2019 – Boeing C-17 Globemaster III: falha mecânica.
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2023 – Cessna 170: acidente em operação com cargas externas.
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2025 – Cessna Citation 525 CJ1 (PR-GFS): ultrapassou a pista e explodiu na orla; o piloto morreu, passageiros e pessoas em solo ficaram feridos.
Esse histórico recente demonstra que Ubatuba, principalmente em períodos de alta temporada, é um ponto que merece maior atenção das autoridades.
Paraty: tragédias que marcaram a aviação
O Aeródromo de Paraty (SDTK) também é um campo de aviação não controlado, com pista curta e operações frequentemente realizadas sob condições meteorológicas adversas.
Entre os acidentes mais relevantes:
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2016 – King Air PP-LMM: caiu em mata durante aproximação; 2 tripulantes mortos.
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2017 – King Air PR-SOM: caiu no mar próximo à Ilha Rasa em condições meteorológicas adversas; 5 vítimas fatais, entre elas o ministro do STF Teori Zavascki.
Assim como Ubatuba, Paraty é um destino turístico movimentado, o que torna o risco ainda mais significativo quando somamos tráfego elevado, clima instável e infraestrutura limitada.
A solução possível: serviço de rádio sazonal
Diante dessa realidade, tanto em Ubatuba quanto em Paraty, considero que uma medida simples e viável seria a instalação, em períodos de alta temporada, de um serviço móvel de informações de voo (AFIS).
Esse serviço não substituiria uma torre de controle completa, mas forneceria aos pilotos informações essenciais sobre tráfego, meteorologia e coordenação de aproximações, reduzindo a probabilidade de incidentes.
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Em Ubatuba, cuja gestão está sob responsabilidade da Prefeitura, caberia ao município solicitar formalmente ao DCEA esse apoio temporário.
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Em Paraty, a mesma lógica se aplica: um serviço sazonal, operado nos períodos críticos, reforçaria a segurança em um aeródromo com histórico de acidentes graves.
Conclusão
Ubatuba e Paraty compartilham características que tornam suas operações mais arriscadas: pistas curtas, ausência de controle, localização em áreas urbanas e forte sazonalidade turística. O histórico de acidentes de 2016 a 2025 em Ubatuba e as tragédias registradas em Paraty, incluindo a que vitimou o ministro Teori Zavascki, são alertas claros de que medidas adicionais são necessárias.
A instalação de um serviço móvel de rádio em alta temporada, solicitado pelas administrações locais ao DCEA, é uma solução de baixo custo e alto impacto. Não elimina riscos, mas contribui significativamente para reduzir a probabilidade de novos acidentes em duas localidades que, pela importância turística e pela posição geográfica, merecem atenção especial das autoridades de aviação civil e aeronautica.

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Marcuss Silva Reis