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Bem-vindo ao Instituto do Ar, um blog dedicado ao fascinante mundo da aviação. Nossa missão é fornecer conteúdo de alta qualidade, rigorosamente pesquisado, sobre diversos aspectos da aviação, desde a teoria e prática do voo até as políticas e tecnologias que moldam a indústria.Utilizo IA na confeção dos textos porém os temas são elencados por mim juntamente com os ajustes e correções!Desejo uma ótima leitura a todos!

domingo, 26 de outubro de 2025

🧠 O Fator Humano na Era dos Algoritmos: o Novo CRM da Aviação

 



Por Marcuss Silva Reis – Instituto do Ar Aviação

✈️ A nova era do gerenciamento de recursos de cabine

O Crew Resource Management (CRM) nasceu de tragédias. Depois de acidentes emblemáticos nas décadas de 1970 e 1980 — como o de Tenerife (1977) — a aviação entendeu que o erro humano não era apenas falha individual, mas resultado de falhas de comunicação, liderança e tomada de decisão sob pressão.

Quase meio século depois, entramos em uma nova fronteira: a da automação cognitiva. A cabine moderna é um ambiente onde os algoritmos processam dados, preveem cenários e sugerem decisões, muitas vezes mais rápido que o cérebro humano. Surge, então, uma pergunta essencial:

Qual é o papel do piloto quando a máquina também pensa?

🤖 A inteligência artificial entra na cabine

Os sistemas atuais já vão muito além do simples “piloto automático”. Plataformas como Airbus Skywise, Boeing AnalytX e sistemas preditivos de manutenção usam IA para antecipar falhas, calcular rotas mais econômicas e até propor ajustes de performance em tempo real.

A próxima geração de aeronaves — como o A321XLR e o Boeing ecoDemonstrator — já integra assistentes cognitivos de voo, capazes de reconhecer padrões e sugerir ações ao piloto com base em análises de big data.
Essa nova era cria um ambiente em que o fator humano precisa evoluir: o CRM tradicional precisa incorporar o que chamamos de Human-AI Teaming — o trabalho conjunto entre humanos e sistemas inteligentes.⚖️ Julgamento humano x automação cognitiva

O maior desafio não é técnico — é psicológico e ético.
Em uma situação crítica, a IA pode sugerir uma ação baseada em estatísticas, mas o piloto decide baseado em contexto e consequência. A máquina não sente medo, responsabilidade ou empatia — elementos essenciais do julgamento humano.

Exemplo: em uma aproximação instável, o algoritmo pode indicar “Go Around” com base em parâmetros de velocidade e altitude. O piloto, contudo, pode avaliar fatores como tráfego, visibilidade e combustível restante para decidir se a manobra é realmente segura.
É aí que entra o novo CRM: a habilidade de dialogar com a automação, questionar, validar e — quando necessário — contrariar a máquina com base na consciência situacional.

🧩 O novo perfil do piloto

O piloto do futuro precisará de menos habilidade manual e mais pensamento crítico.
Os treinamentos de CRM devem incorporar novos pilares:

  1. Interação homem-máquina (HMI) – compreender a lógica e as limitações do sistema.

  2. Gestão cognitiva – saber quando confiar e quando duvidar da automação.

  3. Resiliência decisional – manter calma e autoridade diante de alertas contraditórios.

  4. Consciência situacional ampliada – integrar informações humanas e algorítmicas.

  5. Ética e responsabilidade operacional – entender que a decisão final ainda é humana.

Em outras palavras, o piloto deixa de ser executor para se tornar gestor da decisão — uma mudança profunda na cultura de cabine.

🧠 O CRM 5.0: colaboração entre humanos e máquinas

Alguns estudiosos já chamam essa nova etapa de CRM 5.0, em que o piloto e o sistema formam uma equipe híbrida.
O objetivo não é substituir, mas harmonizar o raciocínio humano e o cálculo algorítmico, de modo que cada um compense as limitações do outro.

Enquanto a IA oferece velocidade, precisão e memória ilimitada, o ser humano aporta criatividade, empatia e improviso — valores que, até hoje, nenhuma máquina foi capaz de replicar.

🪂 Conclusão: a tecnologia é ferramenta, não autoridade

O avanço da automação é inevitável — mas a responsabilidade final continua humana.
O novo CRM não é apenas um treinamento, e sim uma filosofia de convivência com a inteligência artificial.
Decidir com segurança, nesse cenário, significa saber quando seguir o algoritmo — e quando escutá-lo, mas não obedecê-lo.

Porque, no fim, a aviação sempre foi — e continua sendo — sobre pessoas.
A máquina calcula. O piloto decide.

sábado, 25 de outubro de 2025

JetBlue completa 25 anos de voo seguro — prova viva de que prevenção é rotina, processo metodologia

 


Em um setor onde cada detalhe conta, a JetBlue conquistou um feito digno de destaque mundial: 25 anos de operação sem um único acidente fatal. Fundada em 1998 em Nova York, a companhia consolidou-se como um exemplo de gestão eficiente, padronização de procedimentos e cultura organizacional voltada à segurança.

Milhões de passageiros já voaram com a JetBlue, que mantém nota máxima (7/7) nos principais índices internacionais de segurança. Esse resultado não é obra do acaso — é o reflexo de processos bem definidos, treinamentos contínuos e comprometimento total com o fator humano.

A companhia construiu sua reputação apostando na prevenção e na consistência operacional. Cada decolagem e cada pouso seguem protocolos que envolvem múltiplas camadas de redundância técnica e humana, aplicando de forma rigorosa princípios de Safety Management System (SMS) e Crew Resource Management (CRM).

Mesmo assim, a trajetória da JetBlue inclui episódios que testaram seus sistemas e suas equipes:

  • Em 2005, o voo 292 protagonizou um pouso televisionado ao vivo após o trem de pouso travar lateralmente — uma manobra conduzida com maestria pela tripulação, sem feridos.

  • Em 2012, o voo 191 precisou ser desviado quando o comandante apresentou um colapso mental em pleno voo, sendo contido pelos próprios passageiros.

  • E em 2025, um jato da JetBlue derrapou em uma pista molhada em Boston, mas novamente todos saíram ilesos.

Esses eventos, longe de manchar a reputação da empresa, reforçam o quanto a cultura de segurança da JetBlue é resiliente e eficiente. Cada ocorrência se transforma em aprendizado, retroalimentando o sistema e aprimorando ainda mais seus métodos de controle de risco.

A ausência de acidentes fatais por um quarto de século é, sem dúvida, motivo de orgulho e um exemplo inspirador para toda a aviação mundial. Porém, a mensagem essencial é clara:

Segurança é um processo contínuo — nunca um resultado definitivo.
Mesmo após 25 anos sem acidentes, jamais se pode baixar a guarda.

🧭 Quando o sonho muda de rota: o que fazer se o aluno perder a capacidade de seguir como piloto.

 


✈️ Quando o inesperado acontece

A aviação é uma carreira de vocação, paixão e disciplina. Mas é também uma profissão altamente regulada e dependente de aptidão física, mental e financeira.
Não são raros os casos de alunos que, no meio do curso ou da formação prática, descobrem limitações médicas ou passam por situações que inviabilizam a continuidade da carreira de piloto.

Quando isso acontece, o mais importante é entender que o sonho não acabou — ele apenas precisa de uma nova rota.

⚕️ 1. Entenda o motivo e procure orientação técnica

Se a limitação for médica, o primeiro passo é conversar com um médico examinador credenciado pela ANAC (AME).
Muitas condições temporárias ou tratáveis não significam o fim da carreira.
Em casos mais sérios, o aluno pode solicitar reavaliação médica ou adaptação funcional (prevista em alguns casos específicos do RBAC 67).

👉 Importante: só o médico aeronáutico e a própria ANAC podem definir se a limitação é temporária ou definitiva.

🎓 2. Reoriente sua formação dentro do curso

O curso de Ciências Aeronáuticas não forma apenas pilotos.
Ele prepara profissionais capazes de atuar em várias áreas da aviação civil, como:

  • Gestão de operações aéreas e aeroportuárias

  • Planejamento e segurança de voo (SGSO)

  • Despacho operacional de voo (DOV)

  • Controle de tráfego aéreo e coordenação de solo (rampa e pátio)

  • Compliance e segurança operacional em empresas aéreas (Safety e Security)

  • Treinamento, docência e simulação de voo

Ou seja, o aluno que perde a capacidade de voar não precisa abandonar o setor, mas redefinir seu papel dentro dele.

💼 3. Explore as carreiras em solo

A aviação depende de muito mais que pilotos.
Profissionais com formação em Ciências Aeronáuticas são cada vez mais valorizados em funções de gestão, segurança e planejamento, como:

Área de atuaçãoFunção típicaOnde atuar
Segurança de voo (Safety)Analista ou gestor de SGSOCompanhias aéreas, aeroportos, ANAC
Operações de vooDespachante operacional (DOV)Empresas aéreas, escolas de aviação
Gerência e planejamentoSupervisor de operações ou gestor técnicoTáxis aéreos, centros de manutenção
Treinamento e ensinoInstrutor teórico, simulador ou docente universitárioEscolas e universidades
Aviação executiva e manutençãoCoordenação de logística e documentação técnicaOperadores privados, hangares

Essas áreas mantêm o profissional dentro da aviação, com a mesma ética e o mesmo compromisso com a segurança — apenas de outro ponto de vista.

💡 4. Redirecione sua carreira com inteligência emocional

Perder a capacidade de seguir como piloto pode ser um golpe emocional.
Mas é também uma oportunidade de descobrir novas habilidades.
Muitos profissionais renomados da aviação começaram como pilotos e depois se destacaram em áreas de gestão, investigação ou docência.

“O importante não é onde você atua na aviação, mas o quanto você contribui para que ela continue segura.”

Buscar autoconhecimento e orientação profissional ajuda a reconstruir a trajetória com propósito e equilíbrio.

📚 5. Continue estudando e se especializando

Mesmo sem a habilitação de piloto, o conhecimento aeronáutico é altamente valorizado em áreas estratégicas.
Algumas opções de pós-graduação e especialização incluem:

  • Segurança de voo e investigação de acidentes (CENIPA)

  • Gestão do transporte aéreo e aeroportuário

  • Auditoria e conformidade aeronáutica (compliance e SMS)

  • Docência e instrução teórica em aviação

  • Economia e planejamento do transporte aéreo

A educação contínua mantém o profissional conectado ao setor e competitivo no mercado.

🧭 Conclusão

Na aviação, o comando nem sempre é no manche — às vezes, é na mente e na atitude.

Perder a capacidade de voar não significa perder a aviação.
Significa mudar o papel, mas manter a missão: contribuir para um sistema seguro, eficiente e humano.

Autor: Marcuss Silva Reis

Piloto profissional, economista e professor universitário.
Membro fundador do Instituto do Ar Aviação, instrutor de escolas de aviaçãoe especialista em segurança da aviação civil, formação aeronáutica de tripulantes e gestão do transporte aéreo.
Atua na divulgação da cultura de segurança e na orientação de novos profissionais da aviação civil.Autor do Ebook "O poder da decisão segura"


sexta-feira, 24 de outubro de 2025

🛩️A pedidos- Quanto custa ter um Cessna 150 no Brasil em 2025

 



✈️ O Cessna 150: o clássico acessível da aviação

O Cessna 150 é um dos aviões mais populares entre pilotos em formação e entusiastas da aviação. Simples, confiável e de baixo consumo, ele representa o primeiro contato com o sonho de voar.
Mas quanto realmente custa manter um Cessna 150 no Brasil em 2025?

A resposta envolve mais do que apenas o preço de compra. É preciso considerar combustível, manutenção, seguro, hangaragem e o impacto do clima quente brasileiro sobre o desempenho e os custos operacionais.

💰 Custo de aquisição e importação do Cessna 150

No mercado brasileiro, o preço de um Cessna 150 usado varia entre R$ 300 mil e R$ 500 mil, dependendo do ano de fabricação, estado geral e equipamentos instalados.
Aeronaves importadas podem exigir custos adicionais de homologação e regularização junto à ANAC, além de transporte e impostos, elevando o investimento inicial para algo entre R$ 350 mil e R$ 650 mil.

🌡️ Clima quente e manutenção: o impacto brasileiro

O clima quente e úmido do Brasil exige atenção especial. O calor constante acelera o desgaste de componentes, aumenta o consumo de combustível e encurta os intervalos entre revisões.
Por isso, o custo operacional por hora tende a ser mais alto do que em países de clima temperado, onde o Cessna 150 costuma voar por cerca de US$ 45/h. No Brasil, esse valor quase dobra.

📊 Custos detalhados do Cessna 150 no Brasil (2025)

CategoriaDescrição / ObservaçõesCusto Estimado (R$)
AquisiçãoAeronave usada, nacionalizada ou importada300.000 – 500.000
Importação e Homologação (se aplicável)Taxas ANAC, transporte, impostos, documentação50.000 – 150.000
Seguro aeronáuticoResponsabilidade civil e casco (opcional)20.000 – 40.000/ano
Hangaragem / EstacionamentoAeroclubes e aeroportos regionais1.500 – 3.000/mês
Inspeção anual e manutenção programadaRevisões obrigatórias20.000 – 40.000/ano
Combustível (AVGAS 100LL)25 L/h a R$ 9–12/L225 – 300/hora
Óleo e insumos menoresTrocas preventivas20 – 30/hora
Manutenção proporcionalPeças, pneus, freios, magnetos100 – 150/hora
Taxas aeroportuárias e pousos ocasionaisVaria por aeroporto30 – 50/hora
Rateio de custos fixos (seguro, hangar, inspeção)Cálculo para 100h/ano de voo50 – 70/hora
Reserva para revisão de motor (overhaul)A cada 1.800h de voo60 – 100/hora

⚙️ Custo médio por hora de voo em 2025

Somando combustível, manutenção, óleo, taxas e reservas, o custo por hora de voo de um Cessna 150 no Brasil em 2025 fica entre:

💸 R$ 400 e R$ 700 por hora, dependendo da região e das condições operacionais.

Já os custos fixos anuais, como hangaragem, seguro e inspeções, giram entre R$ 60 mil e R$ 120 mil por ano, mesmo que a aeronave voe pouco.

🧭 Vale a pena ter um Cessna 150?

Sim, para quem deseja voar com autonomia, aprender mais sobre manutenção e gestão aeronáutica e ter uma aeronave confiável para deslocamentos curtos, o Cessna 150 ainda é uma excelente escolha.
Mas é fundamental entender que voar exige planejamento financeiro e disciplina técnica. A melhor decisão é sempre aquela que une prazer, segurança e responsabilidade.

🪶 Conclusão

Ter um Cessna 150 no Brasil é mais do que uma conquista pessoal — é um compromisso com a segurança e a consciência operacional.
Com custos bem gerenciados e manutenção criteriosa, ele continua sendo uma das formas mais acessíveis e seguras de viver o sonho de voar.

📝 Nota

Os valores apresentados neste artigo são estimativas aproximadas, baseadas em médias de mercado no ano de 2025. Foram considerados fatores como variação cambial do dólar, impostos de importação, diferenças regionais no preço da AVGAS, custos de manutenção em oficinas homologadas pela ANAC, condições típicas de operação em clima quente e carga tributária incidente sobre a aviação geral no Brasil.

Esses valores podem variar conforme a localização, o uso anual da aeronave, o estado de conservação e o padrão de manutenção adotado.
Recomenda-se sempre consultar profissionais especializados e oficinas certificadas antes de qualquer decisão de compra, importação ou operação.

📚 Fontes de consulta

  • ANAC – Agência Nacional de Aviação Civil: www.gov.br/anac

  • Aircraft24.com: Listagens e preços médios de Cessna 150 no mercado internacional

  • GlobalAir.com: Dados de referência sobre valores de compra e operação de aeronaves leves

  • Cessna150-152Club.com: Custos médios de operação, manutenção e consumo de combustível

  • AOPA (Aircraft Owners and Pilots Association): Estudos sobre custos anuais e operacionais de aeronaves leves

  • Consultas diretas (2024–2025): Mecânicos e operadores de aviação geral no Brasil


quinta-feira, 23 de outubro de 2025

23 de outubro é dia de aviadores



✈️ Dia de Aviadores — Um Brinde aos que Cruzam os Céus, de Corpo e Alma

Hoje é dia de celebrar todos e todas que ousam voar.
Os que rasgam os céus em asas de alumínio, os que tocam o infinito com os olhos atentos e o coração sereno, e também aqueles que — mesmo em simuladores, games, drones ou sonhos — mantêm viva a chama da aviação dentro de si.

O Dia deAviadores é mais que uma data.
É um símbolo da coragem de quem desafia limites, da disciplina de quem entende que o céu não perdoa distrações, e da paixão de quem transforma o ar em caminho.

Mas hoje, há um motivo especial para olhar o horizonte com ainda mais orgulho:
as aviadoras brasileiras, que conquistaram o espaço antes reservado apenas aos homens, com competência, empenho e uma determinação que inspira gerações.
Com mãos firmes no manche, olhar decidido e mente afiada, elas provaram — e continuam provando — que a excelência não tem gênero, que o cockpit é lugar de talento, não de preconceito.

A cada decolagem, a cada pouso, a cada decisão tomada em segundos, está o reflexo da grandeza de quem aprendeu a confiar na própria asa.
Voar é mais que pilotar — é transformar o medo em precisão, o sonho em destino e o dever em arte.

Neste 23 de outubro, celebremos juntos todos os aviadores e aviadoras:
os que protegem nossos céus, os que transportam vidas e esperanças, e os que, com o mesmo amor de Santos Dumont, seguem acreditando que o impossível é apenas uma questão de altitude.

Feliz Dia do Aviador e da Aviadora!
Que o vento continue soprando a favor de quem nasceu para voar — seja no céu real, seja no infinito das ideias.

🛩️ Instituto do Ar Aviação — onde o céu é mais que limite, é vocação.

🛫 O que mudou no Boeing 737 MAX depois das tragédias da Lion Air e Ethiopian Airlines

 


✈️ A crise que paralisou o mundo da aviação

Em 2019, o mundo parou diante de uma sequência de tragédias envolvendo o Boeing 737 MAX, o modelo mais moderno da família 737.
Dois acidentes — Lion Air voo 610 (2018) e Ethiopian Airlines voo 302 (2019) — resultaram em 346 mortes e levaram à suspensão global da frota por quase dois anos.

As investigações revelaram falhas graves de projeto, comunicação e certificação que mudaram para sempre a forma como a aviação comercial encara o equilíbrio entre tecnologia e segurança operacional.

⚙️ O sistema que mudou tudo: o MCAS

O ponto central da crise foi o MCAS (Maneuvering Characteristics Augmentation System) — um sistema criado para compensar o comportamento aerodinâmico do 737 MAX em certas condições de alta potência e ângulo de ataque.

O MCAS recebia dados de apenas um sensor de ângulo de ataque (AoA). Quando esse sensor falhava, o sistema acreditava que o avião estava em estol e empurrava automaticamente o nariz da aeronave para baixo, sem que os pilotos compreendessem o motivo.
Essa atuação repetitiva e sem redundância levou à perda de controle em ambos os acidentes.

Pior: o manual do avião não mencionava o MCAS, e os pilotos não foram treinados para lidar com uma falha desse sistema.

🧩 O que as investigações revelaram

As agências NTSB (EUA), KNKT (Indonésia) e Ethiopian CAA concluíram que:

  • O MCAS foi ativado erroneamente por um sensor defeituoso;

  • O sistema não tinha redundância nem limitação de atuação;

  • A Boeing minimizou informações técnicas ao certificar o modelo junto à FAA;

  • Houve deficiências na comunicação interna e no processo de aprovação do software.

Essas falhas mostraram um problema sistêmico: a confiança excessiva da FAA no próprio fabricante durante o processo de certificação.

🛠️ Principais modificações feitas no Boeing 737 MAX

Após meses de auditorias e redesign, a Boeing implementou mudanças profundas no avião e nos procedimentos de treinamento.
Confira as principais:

1. Reprogramação completa do MCAS

  • Agora o sistema usa dois sensores de ângulo de ataque (AoA);

  • Só atua se ambos os sensores concordarem;

  • O MCAS só pode ser ativado uma vez por evento, e em intensidade limitada;

  • Os pilotos podem desativá-lo completamente.

2. Atualização do software de controle de voo

  • Implementação de checagem cruzada automática entre os dois computadores de voo;

  • Melhorias na arquitetura do software, tornando-o mais seguro e redundante.

3. Mudanças físicas

  • Reorganização dos cabos do estabilizador horizontal;

  • Inclusão do alerta “AoA Disagree” no painel — antes disponível apenas como opcional.

4. Treinamento e manuais revisados

  • Todos os pilotos precisam passar por treinamento em simulador antes de voar o MAX;

  • Os procedimentos de emergência foram revisados e padronizados;

  • O MCAS passou a ser claramente descrito no manual de operação.

5. Reformas regulatórias

  • A FAA mudou sua metodologia de certificação, com menos delegação ao fabricante;

  • Outras agências (como EASA, Transport Canada, ANAC) recertificaram o modelo de forma independente;

  • A Boeing foi multada, reestruturou suas áreas de engenharia e criou um Conselho de Segurança Aeroespacial interno.

🌍 Retorno gradual aos céus

O Boeing 737 MAX voltou a operar em novembro de 2020 nos Estados Unidos e, aos poucos, foi liberado em outros países entre 2021 e 2023.
Hoje, mais de 1.500 aeronaves MAX estão em operação comercial, somando milhões de horas de voo seguras.

O modelo 737 MAX 10, versão mais alongada da série, ainda aguarda certificação final da FAA — prevista para 2026.

💡 Lições que ficaram

A crise do 737 MAX foi um divisor de águas na aviação mundial.
Ela reforçou que:

  • Nenhum software substitui o julgamento humano e o treinamento contínuo;

  • A transparência técnica entre fabricante, reguladores e operadores é essencial;

  • E que a segurança de voo precisa estar sempre acima de qualquer pressão econômica ou de cronograma.

📚 Conclusão

O Boeing 737 MAX voltou a voar diferente — mais seguro, mais transparente e mais monitorado do que nunca.
Os acidentes da Lion Air e Ethiopian deixaram cicatrizes profundas, mas também lições que fortalecem a segurança global da aviação.
No fim, essa história reforça um princípio que todo aviador conhece bem: a confiança é conquistada no ar, mas nasce no solo — com engenharia, ética e responsabilidade.

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

🛩️ Tragédia nos EUA: Jato executivo Hawker 800XP mexicano cai em Bath Township, Michigan

 


Data: 16 de outubro de 2025
Local: Bath Township, próximo a Lansing, Michigan
Aeronave: Hawker 800XP – matrícula XA-JMR (México)

Resumo da Ocorrência

Um jato executivo Hawker 800XP de matrícula mexicana XA-JMR caiu no fim da tarde de quinta-feira, 16 de outubro, por volta das 17h (horário local), nas proximidades do cruzamento das estradas Clark Road e Peacock Road, em Bath Township, ao nordeste de Lansing, Michigan.

Segundo a polícia local, as três pessoas a bordo morreram no local. Não houve feridos em solo. O local do impacto, uma área arborizada, foi rapidamente isolado pelas equipes de emergência, e as estradas próximas foram interditadas.

Detalhes do voo e da queda

Dados preliminares do ADS-B indicam que o jato decolou de Battle Creek, cerca de 22 minutos antes do acidente. Registros de rastreamento mostram uma queda abrupta de 14.700 pés em aproximadamente 30 segundos, antes da colisão com o solo.

A rota de destino ainda não foi informada, e as causas da perda de controle permanecem desconhecidas.

Investigações

Agentes da Federal Aviation Administration (FAA) já estão no local, e o National Transportation Safety Board (NTSB) assumirá a investigação. As autoridades informaram que as identidades das vítimas serão divulgadas após a notificação dos familiares.

O relatório preliminar do NTSB deverá ser divulgado nas próximas semanas, com dados sobre a trajetória, condições meteorológicas, performance da aeronave e eventuais comunicações de emergência.

✈️ Análise inicial

O Hawker 800XP é um jato executivo bimotor de médio porte, amplamente utilizado em voos corporativos e charter. Embora seja uma aeronave robusta, a investigação buscará determinar se houve falha mecânica, perda de controle, ou fatores externos — como clima adverso ou erro humano.

Casos semelhantes, com descida abrupta em curto intervalo de tempo, costumam levantar hipóteses de desorientação espacial, falhas de sistema de controle ou eventos estruturais repentinos.

✅ Fontes confirmadas

  • “Officials release more details about Bath Twp. plane crash: What we know” — WILX News (Oct. 17 2025). Contém informações oficiais sobre a ocorrência, o voo de teste após manutenção, a participação da Federal Aviation Administration (FAA) e da National Transportation Safety Board (NTSB). https://www.wilx.com+2https://www.wilx.com+2

  • “Three Killed in Michigan Jet Crash” — AVweb (Oct. 17 2025). Relatório técnico sobre o jato, a descida abrupta e a investigação iniciada. avweb.com

  • “Jet that went down in Bath Twp. took off from Battle Creek, airport confirms” — FOX17 (local Michigan). Confirma a origem do jato no Battle Creek Executive Airport e que era um voo de teste após manutenção. FOX 17 West Michigan News (WXMI)

  • “Plane that crashed during test flight near Lansing departed from Battle Creek” — WWMT News. Dá detalhes de que o voo era um “stall flight” de teste. WWMT

  • “’Something went terribly wrong’: Pilot reacts to Bath Twp. plane crash” — WILX. Inclui declarações de especialistas, confirma bloqueio da área pelas autoridades (FAA) para preservação da cena. https://www.wilx.com

⚠️ Observações importantes

  • Nenhuma fonte até agora disponibilizou o relatório preliminar da NTSB ou da FAA com causa oficial publicada.

  • Há menção de que o voo era um “stall flight” (teste intencional de estol) após manutenção realizada pela empresa Duncan Aviation em Battle Creek. https://www.wilx.com+2WWMT+2

  • A identidade das vítimas ainda não foi divulgada oficialmente nas fontes que achei. A WILX informa que há evento para liberação da identidade. https://www.wilx.com

  • A FAA está listada como investigadora no local, e a NTSB espera-se que lidere a investigação completa.

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Incidente em Voo: Boeing 737 MAX da United tem para-brisa estilhaçado a 36 mil pés próximo a Salt Lake City

 



Salt Lake City, 16 de outubro de 2025 — Um Boeing 737 MAX 8 da United Airlines (registro N17327, MSN 67582) sofreu um grave impacto no para-brisa durante o voo de cruzeiro a 36 mil pés, nas proximidades de Salt Lake City. O incidente levou a uma diversão de emergência e pouso seguro, sem feridos entre passageiros ou tripulantes.

De acordo com as informações preliminares, a aeronave — entregue à companhia há menos de dois anos — operava o voo UA1093 quando a camada externa do para-brisa sofreu um estilhaçamento violento, espalhando partículas de vidro fino pelo painel da cabine de comando. Após o pouso, técnicos constataram danos visíveis na parte externa do nariz da aeronave e fraturas severas na camada interna do para-brisa, indicando que se tratou de um impacto, e não de uma simples rachadura por fadiga.

Possíveis causas em investigação

Embora o comunicado oficial da United tenha descrito o ocorrido apenas como “uma rachadura na parte externa do para-brisa”, especialistas e observadores da aviação consideram que os danos apontam para impacto com objeto externo.
As hipóteses levantadas incluem:

  • Fragmentos de balão meteorológico,

  • Blocos de gelo em alta altitude,

  • Microimpacto de meteorito, ou

  • Detrito espacial em reentrada na atmosfera.

A essa altitude de cruzeiro, colisões com aves são praticamente impossíveis, o que restringe as possibilidades a objetos de origem artificial ou extraterrestre.

Detalhes da aeronave e do voo

  • Modelo: Boeing 737-8 MAX

  • Motores: 2 × CFM LEAP-1B

  • Número de série: 67582 (Line number 8784)

  • Primeiro voo: 21 de novembro de 2023

  • Idade: 1,9 ano

  • Configuração de assentos: 166 lugares (C16 / Y150)

  • Hex code: A12710

Desfecho e investigação

A decisão rápida da tripulação em desviar para o Aeroporto Internacional de Salt Lake City (KSLC) garantiu um pouso seguro e controlado. A FAA e o NTSB foram notificados e devem conduzir uma análise detalhada da origem do impacto e dos fragmentos do para-brisa.

Especialistas ressaltam que falhas estruturais no para-brisa durante o voo de cruzeiro são extremamente raras em aeronaves modernas e, quando causadas por impacto, representam risco elevado devido à possível despressurização e perda de visibilidade dos pilotos.
Equipes de manutenção da Boeing e da United já isolaram o avião para perícia técnica e análise forense do material danificado.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Mais uma analise de Ralatório final da aviação geral

 


✈️ Cessna 150 capota durante toque e arremetida na Flórida após falha no trem de pouso dianteiro

Metadescrição (SEO):
Durante um treinamento de pousos e decolagens em Jacksonville, Flórida, um Cessna 150F pilonou após perder o controle direcional devido a uma falha no trem de pouso dianteiro. O caso reforça a importância da manutenção preventiva e da atenção em manobras críticas.

🛬 O incidente com o Cessna 150F em Jacksonville

No dia 29 de maio de 2022, um Cessna 150F, matrícula N8919S, sofreu um acidente sem ferimentos em Jacksonville, Flórida, durante um voo de treinamento de toque e arremetida (touch-and-go).
O piloto privado (PPL), com 62 horas totais de voo e 16 horas neste modelo, planejava praticar pousos e decolagens no circuito de tráfego local.

Após o primeiro pouso, que ocorreu normalmente, o piloto aplicou potência total para decolar novamente. Porém, ao recolher os flaps de 30°, percebeu que a aeronave puxava fortemente para a esquerda, iniciando uma sequência de perda de controle direcional.

⚠️ A sequência do acidente

Mesmo aplicando leme de direção e freio direito, o piloto não conseguiu manter a reta na pista. O Cessna 150 saiu para a área gramada, onde o piloto reduziu a potência para marcha lenta.
Apesar da tentativa de controle, a aeronave pilonou,capotou (“nose over”), sofrendo danos substanciais nas asas, na fuselagem e no estabilizador vertical.

O piloto saiu ileso, mas o incidente chamou atenção pela origem mecânica e pelo papel do torque e das forças atuantes na decolagem.

🔧 A investigação e o que revelou o NTSB

O exame pós-acidente identificou que a haste de conexão da direção esquerda estava fraturada no ponto de ligação com o trem de pouso dianteiro (NLG).
A haste direita permaneceu intacta, e o trem de pouso foi encontrado travado na posição de curva à esquerda, sem poder ser movimentado manualmente.

O Laboratório de Materiais do NTSB examinou a peça e constatou fratura na extremidade rosqueada, com deformação plástica e sobrecarga por flexão (bending overstress) — típica de uma quebra por esforço excessivo.

Os registros de manutenção mostraram que, durante a inspeção anual de 8 de maio de 2021, as tesouras do trem de pouso dianteiro foram lubrificadas, sem anotações posteriores sobre problemas ou substituições na peça.

⚙️ Entendendo o torque e o controle direcional

Segundo o Pilot’s Handbook of Aeronautical Knowledge da FAA, o torque — tendência de giro para a esquerda — é composto por quatro elementos principais:

  1. Reação de torque do motor e da hélice

  2. Efeito em espiral (corkscrew) do fluxo de ar no leme

  3. Ação giroscópica da hélice

  4. Carga assimétrica na hélice (P-factor)

Durante o toque e arremetida, esses fatores são potencializados, exigindo respostas rápidas e correção precisa do leme, principalmente em aeronaves de pequeno porte, como o Cessna 150.


🧭 lições de segurança de voo

O incidente com o Cessna 150F reforça pontos fundamentais para a aviação geral e formação de pilotos:

  • Inspeções minuciosas são essenciais, mesmo após manutenções recentes.

  • Atenção total durante o toque e arremetida, uma das fases mais críticas do voo.

  • Reação imediata ao desvio direcional, reduzindo potência e mantendo controle.

  • Treinamento constante em situações de perda de controle direcional.

Manter uma cultura de segurança operacional é o que transforma incidentes como esse em lições valiosas para toda a comunidade aeronáutica.


📘 Fonte

National Transportation Safety Board (NTSB) – Relatório Final N8919S, Cessna 150F, Jacksonville, Florida, 29 May 2022.

💬 Sobre o autor

Marcuss Silva Reis é piloto profissional, instrutor e professor universitário de aviação civil, economista e pós-graduado em Ciências Aeronáuticas e Segurança da Aviação Civil. Fundador do Instituto do Ar, dedica-se à formação e à divulgação de conhecimento técnico sobre segurança de voo e aviação 

domingo, 19 de outubro de 2025

Santos Dumont: Por Que é Melhor Saber Lidar com Ele do que Tentar Substituí-lo

 


O Aeroporto Santos Dumont é parte da alma do Rio de Janeiro. Em vez de tentar substituí-lo, o caminho é aprender a lidar com suas particularidades operacionais e históricas.

O aeroporto mais emblemático do Brasil

O Aeroporto Santos Dumont (SDU) é muito mais do que um terminal aéreo urbano — ele é um símbolo da história do Rio de Janeiro e da aviação brasileira. Desde sua inauguração, em 1936, o Santos Dumont tem sido palco de grandes momentos da aviação civil, além de um dos principais cartões-postais do país, com sua localização privilegiada entre a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar.

Operar no Santos Dumont é um desafio técnico e, ao mesmo tempo, um privilégio. Sua pista curta, suas aproximações visuais únicas e a convivência com o tecido urbano fazem dele um laboratório vivo de segurança operacional, onde experiência, técnica e bom senso se encontram.

Por que o Santos Dumont é insubstituível

Muitos defendem que o Santos Dumont deveria ser substituído ou limitado, mas isso ignora o essencial: ele é insubstituível.
O aeroporto faz parte da identidade econômica e afetiva do Rio de Janeiro e cumpre um papel logístico vital na conectividade nacional, especialmente na ponte aérea Rio–São Paulo.

Fechar ou limitar o Santos Dumont seria o mesmo que desconectar o Rio de Janeiro do seu centro nervoso urbano.
A questão nunca foi “acabar com o aeroporto”, e sim melhorar sua gestão e segurança operacional para que ele continue cumprindo seu papel com eficiência e segurança.

O desafio é aprender a lidar, não eliminar

Em vez de tentar parar o Santos Dumont, o caminho é aprender a lidar com suas particularidades.
A convivência entre o aeroporto, a cidade e o turismo pode ser perfeitamente harmônica quando há planejamento técnico e operacional.

Soluções práticas para aumentar a segurança operacional:

  • Treinamento específico de tripulações para pousos e decolagens em pistas curtas;

  • Adoção de tecnologias de aproximação de precisão (RNP, PBN);

  • Melhoria na drenagem e no pavimento das pistas;

  • Monitoramento meteorológico avançado para alertas de vento e chuva intensa;

  • Gestão de tráfego equilibrada entre o SDU e o Galeão (GIG);

  • Planejamento urbano cooperativo, respeitando a integração entre aeroporto e entorno.

Essas medidas já são adotadas em aeroportos urbanos de grande porte no mundo — como o London City (Inglaterra) e o LaGuardia (EUA) —, e poderiam manter o Santos Dumont seguro e eficiente sem perder sua essência.

O Santos Dumont é parte da história e da alma do Rio

O Santos Dumont é um dos poucos aeroportos do mundo que unem paisagem, memória e operação aérea em um só espaço.
Ao pousar ali, o passageiro sente a emoção de ver o Pão de Açúcar, o Corcovado e a Baía de Guanabara — uma experiência que nenhum outro aeroporto proporciona.

Tentar substituí-lo seria um erro estratégico e cultural, porque o Santos Dumont não é apenas uma infraestrutura, mas um patrimônio histórico da aviação brasileira.
O aeroporto carrega o nome do próprio pai da aviação, e isso por si só já o torna um símbolo que deve ser preservado com responsabilidade e orgulho.

Conclusão: preservar, adaptar e respeitar

O Santos Dumont não precisa ser substituído — precisa ser compreendido.
Com políticas de segurança adequadas, planejamento urbano e qualificação técnica das equipes, ele pode continuar sendo um dos aeroportos mais seguros e belos do mundo.

Mais do que um terminal aéreo, o SDU é parte da alma carioca.
E a melhor forma de honrar sua história é preservá-lo com inteligência e técnica, garantindo que continue operando de forma segura e eficiente, sem perder seu charme e sua importância.