Avião movido a óleo de cozinha à Rio+20

O Globo / Razão Social – 19/06/12

Camila Nobrega
camila.nobrega@oglobo.com.br
A um dia do início da abertura das negociações oficiais da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento
Sustentável, uma comitiva francesa vai pousar no aeroporto do Galeão a bordo da primeira aeronave a cruzar o Oceano
Atlântico usando bio-combustível. Aproveitando os holofotes da conferência, a companhia aérea holandesa KLM, em parceria
com governos locais daquele país, quer apresentar uma alternativa para reduzir as emissões de carbono de voos. O
combustível do avião é óleo de cozinha descartado. A resposta surge após uma onda de pesquisas internacionais recentes
apontarem previsão de crescimento de emissões pelo setor aéreo nos próximos anos.Segundo a responsável pelo departamento de sustentabilidade da KLM, Inka Pieter, que deu entrevista da Holanda, o voo foi
programado durante a conferência para chamar atenção de líderes mundiais e empresas para a importância de parcerias
público-privadas que viabilizem biocombustíveis:
— A demanda ainda é baixa e a tecnologia que viabiliza o uso de biocombustíveis em aviões é cara. Mas se uma empresa ficar
esperando a outra para dar o primeiro passo, ficamos estagnados.
A meta para uso dos aviões movidos a óleo de cozinha na frota da empresa, no entanto, é tímida, de apenas 1%. A justificativa
é exatamente o preço alto do biocombustível. Mas as companhias aéreas terão que encontrar soluções mais sustentáveis. A
meta da Associação da Indústria da Aviação (lata, sigla em inglês) é reduzir a emissão de C02 em 50% até 2050. A KLM
assumiu um compromisso público para um prazo mais curto. Promete reduzir em 20% as emissões até 2020 (tendo como
referência o ano de 2009).
O avião que chegará ao Galeão emite 50 toneladas de C02 a menos que os convencionais. Ele transportará passageiros
comuns e trará também participantes da conferência, entre eles o secretário de Estado de Meio Ambiente da Holanda, Joop
Atsma, que vem representar o país nas discussões da ONU.
Além da pequena escala, outra dificuldade em relação aos biocombustíveis é a garantia de boas práticas da cadeia produtiva.
A proposta da coordenadora de sustentabilidade da KLM é que as empresas fomentem a produção e o rastreamento de todo o
processo:
— As viagens vão aumentar, e as companhias sabem que precisam reduzir as emissões de carbono por voo. Só que não
adianta comprar biocombustível vindo de trabalho escravo, ou que esteja tomando espaço de alimentos essenciais. Então,
temos que discutir tudo isso.
Um recente estudo da Oxford Economics informou que a aviação mundial é responsável por 56,6 milhões de empregos e 2,2
trilhões de dólares em atividade económica, o que corresponde a cerca de 3,5% do PIB global.
Setor aéreo mostra inovações
Fabricantes de aeronaves do mundo inteiro, que vêm protagonizando uma verdadeira corrida contra o tempo em busca de tecnologias
mais limpas, também farão anúncios hoje no aeroporto do Galeão. As empresas apresentarão aeronaves mais
modernas, que emitem menos gases causadores do efeito estufa. Entre as companhias estará a Airbus, que vai testar um novo
modelo cruzando fronteira entre países pela primeira vez, durante a Rio+20. O projeto, que a companhia vem chamando de
Perfect Flight (Voo Perfeito), reduz em até 10% as emissões de carbono e vem sendo testado em trechos na Europa. No
lançamento do projeto, o presidente da companhia, Tom Enders, afirmou: "Na última década, houve um aumento de tráfego
aéreo de 45%, é preciso buscar combustíveis renováveis."