Por Marcuss Silva Reis – Economista, Piloto, perito judicial e editor do Instituto do Ar
O setor aéreo brasileiro é sensível às variações econômicas — talvez mais do que qualquer outro segmento de transporte. Dependente de moeda forte, de investimentos contínuos e de estabilidade regulatória, a aviação civil sofre diretamente os reflexos dos rumos que a economia brasileira vem tomando nos últimos anos.
Neste artigo, analisamos os impactos econômicos previstos para as empresas aéreas e para a aviação em geral, à luz do atual cenário fiscal, cambial e político do Brasil.
📈 Aumento de custos operacionais: o principal vilão
Com a inflação persistente, juros elevados e a constante desvalorização do real frente ao dólar, o custo das operações aéreas tende a subir significativamente. Isso afeta:
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O preço do querosene de aviação (QAV), que já representa 30% a 40% dos custos das companhias.
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Peças e manutenção, que são majoritariamente importadas.
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Contratos de leasing, realizados em moeda estrangeira, com incidência de IOF e variação cambial.
Esse efeito combinado pressiona as margens operacionais, sobretudo das empresas nacionais que já operam com alta carga tributária e pouca margem de lucro.
💸 Passagens mais caras e redução de rotas
Com a alta dos custos, as companhias aéreas são forçadas a repassar parte do impacto ao consumidor. O resultado é um aumento no valor das passagens aéreas e, em muitos casos, o cancelamento de rotas menos rentáveis — principalmente em regiões remotas ou de baixa densidade populacional.
➡️ Consequência direta: redução da conectividade regional e do acesso democrático ao transporte aéreo.
🧱 Inibição de novos investimentos e modernização
A aviação é um setor que exige investimento contínuo. Frotas precisam ser renovadas, aeroportos modernizados e tecnologias atualizadas para garantir segurança e eficiência. No entanto, o cenário de incerteza fiscal, alta do IOF e barreiras cambiais desestimula:
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Investimentos em infraestrutura aeroportuária;
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Aquisição de novas aeronaves;
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Criação de startups ou empresas regionais de baixo custo (low cost).
Sem um ambiente econômico favorável, o Brasil pode perder competitividade no cenário global da aviação.
🛑 Risco de novas falências e retração do mercado
Já testemunhamos o fim de empresas como Avianca Brasil, Varig e VASP. O cenário atual, com juros reais acima de dois dígitos e instabilidade econômica, coloca em risco companhias menores ou com fluxo de caixa apertado. O resultado pode ser uma nova onda de recuperações judiciais, fusões forçadas ou falências.
➡️ Efeitos colaterais:
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Perda de empregos especializados;
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Redução de oferta de voos;
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Concentração de mercado nas mãos de poucas operadoras.
✈️ Impactos também na aviação geral e na formação de pilotos
A aviação executiva, táxis aéreos, escolas de aviação e oficinas certificadas também sentem os reflexos. Com a redução da demanda, aumento do preço do combustível e encarecimento de aeronaves e peças, muitos operadores enfrentam dificuldades de manter a operação sustentável.
A formação de novos pilotos, por exemplo, pode desacelerar devido ao alto custo de instrução e baixa oferta de empregos, gerando um descompasso futuro entre demanda e oferta de profissionais qualificados.
📊 Conclusão: ou o Brasil muda o rumo, ou o setor pode encolher
A aviação brasileira precisa de um ambiente econômico estável, desburocratizado e com incentivo ao investimento e à inovação. Sem isso, corremos o risco de ver o setor estagnar ou até mesmo retroceder.
É fundamental que o governo entenda que a aviação é estratégica para o desenvolvimento nacional, não apenas como transporte, mas como elo entre regiões, vetor do turismo e agente integrador de uma nação continental como o Brasil.
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Marcuss Silva Reis