Na aviação, termos coloquiais muitas vezes carregam significados profundos e sérios. Um exemplo é o ato de “ciscar”, expressão usada por pilotos para descrever quando uma aeronave voa próxima ao topo de uma camada de nuvens, em baixa altura, na tentativa de encontrar a pista sem condições visuais adequadas.
Embora possa parecer apenas uma manobra improvisada, ciscar é uma prática extremamente perigosa, que já esteve presente em diversos acidentes aéreos, principalmente em operações sob pressão ou em condições meteorológicas adversas.O que significa “ciscar” na aviação?
Ciscar é varrer a região próxima ao aeródromo, voando baixo, tentando encontrar brechas na camada para avistar a pista. O piloto, muitas vezes pressionado a pousar, desrespeita os mínimos visuais, colocando a aeronave em situação crítica.
Essa prática geralmente acontece quando:
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O voo foi planejado em condições VFR, mas o tempo deteriorou;
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Há pressão operacional para pousar no destino;
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O piloto acredita que pode “achar a pista” por instinto ou sorte.
Consequências do ciscar
As consequências de ciscar na aviação podem ser devastadoras. Entre os principais riscos estão:
1. CFIT – Impacto Controlado com o Terreno
Ao voar baixo em condições de visibilidade restrita, o piloto corre o risco de colidir com o terreno ou obstáculos sem tempo de reação.
2. Desorientação espacial
Voar próximo às nuvens, sem referências visuais adequadas, favorece ilusões ópticas e decisões equivocadas.
3. Obstáculos ocultos
Torres, fios de alta tensão, árvores e relevo elevado podem estar escondidos pela neblina ou camada, aumentando a chance de colisão.
4. Violação de mínimos regulamentares
Ao ciscar, o piloto voa abaixo das altitudes mínimas VFR ou fora dos parâmetros IFR, comprometendo não apenas a segurança, mas também a conformidade legal.
5. Pressão psicológica e efeito armadilha
A cada tentativa, o piloto tem a falsa sensação de que a pista está próxima, adiando a decisão segura de arremeter ou alternar.
Como evitar o ciscar
A prevenção está diretamente ligada ao planejamento adequado e disciplina operacional. Algumas práticas fundamentais incluem:
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Respeitar os mínimos meteorológicos (VFR/IFR);
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Planejar aeródromos alternativos e calcular combustível suficiente para usá-los;
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Definir um ponto de decisão: sem referências visuais estáveis, interromper a aproximação imediatamente;
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Priorizar a segurança em vez de ceder à pressão de chegar;
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Treinar cenários de CFIT e VFR em IMC em simuladores ou briefings;
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Reforçar a cultura de segurança de voo: chegar é opcional, voltar vivo é obrigatório.
Conclusão
Ciscar pode parecer uma solução rápida diante de uma aproximação difícil, mas na prática é uma das manobras mais perigosas que um piloto pode realizar. A história da aviação mostra que muitos acidentes fatais tiveram origem nessa tentativa arriscada de “achar a pista”.
Na aviação, decidir por alternar ou arremeter não é sinal de fraqueza, mas sim de profissionalismo e respeito à vida. Evitar o ciscar é proteger a si mesmo, aos passageiros e à reputação da operação aérea.

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Marcuss Silva Reis