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sexta-feira, 15 de agosto de 2025

LAPA 3142 e Voepass: duas décadas, dois países e a mesma falha na cultura da aviação

 

Após assistir a várias entrevistas, reportagens e ouvir opiniões de especialistas de diferentes áreas, decidi escrever sobre dois episódios da aviação que, para mim, se encontram num mesmo ponto: a cultura operacional e organizacional.
Não pretendo apresentar furo de reportagem ou criar um texto sensacionalista — meu objetivo é apenas comparar, com base em fatos públicos e observações, dois casos separados por décadas e fronteiras, mas que guardam semelhanças preocupantes.

Marcuss Silva Reis

Na aviação, cada acidente ou colapso operacional é, em teoria, uma oportunidade de aprender e evitar novos erros. Porém, os casos do acidente da LAPA 3142, ocorrido em 1999 na Argentina, e do encerramento definitivo da Voepass, no Brasil em 2025, mostram que, apesar das diferenças de tempo e contexto, certas falhas sistêmicas e culturais permanecem — e continuam custando vidas e carreiras.


O que foi o acidente da LAPA 3142

Em 31 de agosto de 1999, um Boeing 737-200 da Líneas Aéreas Privadas Argentinas tentou decolar do Aeroporto Jorge Newbery rumo a Córdoba. O alarme de flaps não configurados soou na cabine, mas foi ignorado pela tripulação. Sem sustentação, a aeronave ultrapassou a pista, atravessou avenidas e explodiu, matando 65 pessoas.

A investigação revelou:

  • Licença do comandante vencida;

  • Checklists incompletos;

  • Cultura interna que tolerava desvios;

  • Pressão para cumprir horários.

O episódio ficou marcado como um caso clássico de “forçar a barra” operacional — e chegou às telas no filme Whiskey Romeo Zulu, do ex-piloto da LAPA, Enrique Piñeyro.


O colapso da Voepass

Fundada como Passaredo Linhas Aéreas, a Voepass foi por décadas uma importante operadora regional no Brasil. Porém, a partir de agosto de 2024, após o acidente fatal de Vinhedo (SP) com um ATR-72 que matou 62 pessoas, a ANAC intensificou as fiscalizações.

As auditorias detectaram:

  • Mais de 2.600 voos realizados sem manutenção obrigatória;

  • Trincas e deformações na fuselagem não reparadas;

  • Falhas em carenagens e sistemas críticos;

  • Não cumprimento de prazos de correção.

Em março de 2025, a ANAC suspendeu todos os voos. Em 24 de junho de 2025, cassou definitivamente o Certificado de Operador Aéreo (COA) da empresa.

O elo entre LAPA e Voepass: a cultura de risco

Apesar das diferenças —Os dois casos terminaram em eventos trágicos, e em fechamento administrativo da voe pass —, ambos têm raízes culturais e sistêmicas semelhantes:

Aspecto LAPA 3142 (1999) Voepass (2024–2025)
Pressão operacional Decolagem mesmo com alarme crítico  Operações mantidas sem manutenção
Cultura permissiva Tripulações habituadas a atalhos Manutenção e gestão tolerando desvios
Falha de fiscalização Autoridades argentinas pouco atuantes ANAC agindo tardiamente após acidente
Consequência Tragédia imediata com 65 mortes Fechamento definitivo da empresa

O que a aviação precisa aprender

Esses dois casos reforçam que segurança não pode ser negociada. Toda vez que o cumprimento de horários, contratos ou metas se sobrepõe aos procedimentos, abre-se espaço para que erros previsíveis se transformem em catástrofes.

A mensagem é clara:

  • Treinamento contínuo não é luxo, é necessidade;

  • Manutenção preventiva é obrigação, não custo extra;

  • Autoridades fiscalizadoras precisam agir rápido e de forma contundente;

  • Cultura de segurança deve estar acima de qualquer pressão comercial.

Conclusão.

O acidente da LAPA 3142 e o fechamento da Voepass mostram que, mesmo após mais de 25 anos de avanços tecnológicos e regulatórios, o fator humano e a cultura organizacional continuam sendo o ponto fraco da segurança aérea. Enquanto a indústria não encarar de frente esse problema, novos casos poderão repetir os mesmos padrões.


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Marcuss Silva Reis