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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

O risco da desindustrialização do setor aéreo brasileiro

 


Introdução

O Brasil, que já figurou entre os principais polos da indústria aeronáutica mundial, vive um momento de alerta. A falta de políticas de incentivo, o desmonte de programas de formação técnica e a dependência crescente de fornecedores estrangeiros colocam o setor aéreo nacional em risco iminente de desindustrialização.

Esse fenômeno, que atinge diversos segmentos da economia brasileira, tem consequências ainda mais graves quando se trata da aviação, uma área estratégica não apenas para o transporte, mas para a defesa, a inovação e a soberania nacional.

O que é a desindustrialização do setor aéreo?

A desindustrialização ocorre quando um país passa a depender de produtos e serviços fabricados no exterior, enfraquecendo sua capacidade interna de produção, inovação e geração de empregos qualificados.
No setor aéreo, isso significa:

  • Fechamento ou redução de fábricas de componentes aeronáuticos

  • Queda na produção nacional de aeronaves civis e militares

  • Terceirização massiva de manutenção e engenharia

  • Redução de investimentos em pesquisa e desenvolvimento

  • Evasão de profissionais qualificados para outros países

O Brasil, que já foi referência com a Embraer, o CTA (hoje DCTA) e diversos polos industriais regionais, começa a assistir à migração silenciosa de sua expertise para fora do país.

Embraer: resistência ou última trincheira?

A Embraer é frequentemente citada como exemplo de sucesso industrial brasileiro, e com razão. Nascida em São José dos Campos, foi capaz de competir com gigantes mundiais e consolidar uma posição estratégica na aviação regional global.

Entretanto, sem uma política industrial forte, nem mesmo a Embraer é imune à desindustrialização. A tentativa frustrada de fusão com a Boeing em 2020 evidenciou o risco de perda de autonomia de um dos nossos maiores ativos tecnológicos.

Além disso, a cadeia de fornecedores da Embraer depende fortemente de pequenas e médias empresas nacionais — muitas das quais têm enfrentado dificuldades para se manterem competitivas diante da alta carga tributária, da burocracia e da ausência de crédito acessível para inovação.

Fatores que aceleram a desindustrialização da aviação

Vários elementos contribuem para o enfraquecimento do setor industrial aeronáutico brasileiro:

1. Descontinuidade das políticas públicas

Programas como o Projeto FX e o Programa de Aviação Regional foram lançados com pompa, mas careceram de continuidade e planejamento de longo prazo. Faltam metas industriais consistentes, incentivos fiscais à inovação e integração entre academia, indústria e governo.

2. Formação técnica negligenciada

A evasão de jovens de cursos técnicos em manutenção aeronáutica, engenharia e pilotagem revela a falta de atratividade e de apoio financeiro. Sem formação de mão de obra especializada, a indústria não consegue se renovar ou inovar.

3. Dependência de insumos e tecnologia estrangeira

Boa parte dos componentes utilizados na aviação comercial, inclusive pela Embraer, são importados. A falta de um programa nacional de fomento à fabricação de aviônicos, trens de pouso, sistemas de navegação e softwares aeronáuticos compromete a autossuficiência tecnológica.

4. Encolhimento da aviação regional

Com o fechamento de rotas e aeroportos regionais, a demanda por aeronaves menores e soluções logísticas locais diminui. Isso impacta diretamente a produção nacional, que sempre teve foco na aviação de pequeno e médio porte.

Por que a desindustrialização do setor aéreo é um risco estratégico?

A perda da capacidade industrial em aviação não representa apenas um revés econômico — ela compromete a soberania nacional.

  • Em crises globais, países industrializados mantêm maior autonomia de operação e manutenção de suas frotas.

  • No campo da defesa, dependência de tecnologia estrangeira limita a capacidade de resposta a ameaças.

  • No setor civil, a perda de empregos qualificados afeta diretamente a economia e reduz o poder de inovação local.

Em outras palavras, quando o Brasil abre mão da sua indústria aeronáutica, está também abrindo mão do protagonismo tecnológico e da segurança logística nacional.

Caminhos para evitar o colapso industrial da aviação

É possível reverter esse processo — mas é preciso ação coordenada entre setor público, iniciativa privada e instituições de ensino. Algumas medidas urgentes incluem:

  • Retomada de uma política industrial específica para o setor aéreo

  • Fomento à pesquisa aplicada com subsídios e bolsas voltadas à inovação aeronáutica

  • Incentivo à aviação regional, como forma de gerar demanda real para a indústria local

  • Reestruturação do ensino técnico e superior com foco na empregabilidade no setor

  • Parcerias internacionais equilibradas, que tragam investimentos mas preservem o controle nacional sobre tecnologias estratégicas

Conclusão

O Brasil ainda possui talentos, estrutura e conhecimento acumulado para continuar sendo um protagonista no setor aeronáutico global.
Mas se seguir o caminho da omissão, corre o risco de se transformar em um mero consumidor de tecnologias alheias, perdendo sua identidade industrial e estratégica.

Evitar a desindustrialização do setor aéreo é mais do que uma pauta econômica — é uma missão de soberania.


Sobre o autor

Marcuss Silva Reis é piloto, técnico em óptica, ex-professor universitário e editor do blog Instituto do Ar. Com mais de 35 anos de vivência na aviação, escreve sobre  formação,segurança operacional, políticas públicas e o futuro do setor aéreo brasileiro.



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Marcuss Silva Reis