A profissão de piloto e comissário de bordo exige muito mais do que preparo técnico: ela cobra resistência física e mental para enfrentar longas jornadas, fuso-horários variados, pressões ambientais e riscos ocupacionais específicos da aviação.
A literatura médica mostra que tripulantes de aeronaves apresentam maior incidência de algumas doenças quando comparados à população em geral. Neste artigo, você vai conhecer as principais patologias que afetam os tripulantes e as melhores estratégias de prevenção e mitigação, fundamentais para manter a segurança de voo e a saúde desses profissionais.
Patologias mais frequentes entre tripulantes
1. Distúrbios osteomusculares
-
Causas: postura prolongada na cabine, vibração, esforço físico (movimentação de bagagens, longas horas em pé).
-
Exemplos: lombalgia, cervicalgia, hérnia de disco, síndrome do túnel do carpo.
2. Doenças cardiovasculares
-
Causas: estresse, fadiga, desidratação, imobilidade prolongada.
-
Exemplos: hipertensão arterial, arritmias e risco aumentado de trombose venosa profunda (TVP) em voos longos.
3. Distúrbios auditivos
-
Causas: ruído constante da cabine e turbinas.
-
Exemplos: perda auditiva induzida por ruído (PAIR), zumbidos e vertigens.
4. Alterações visuais
-
Causas: baixa umidade, radiação cósmica, fadiga ocular.
-
Exemplos: síndrome do olho seco, presbiopia precoce, risco aumentado de catarata.
5. Problemas respiratórios
-
Causas: variação de pressão, baixa umidade e contato com vírus.
-
Exemplos: sinusite, resfriados frequentes, barotraumas de ouvido.
6. Distúrbios gastrointestinais
-
Causas: mudanças de pressão, dieta irregular e horários de refeição desajustados.
-
Exemplos: distensão abdominal, constipação, refluxo gastroesofágico.
7. Alterações dermatológicas
-
Causas: baixa umidade, atrito de uniformes e EPIs.
-
Exemplos: ressecamento cutâneo, dermatites de contato.
8. Saúde mental e distúrbios do sono
-
Causas: escalas irregulares, jet lag, estresse operacional.
-
Exemplos: insônia, fadiga crônica, ansiedade, burnout e depressão.
9. Exposição à radiação cósmica
-
Causas: voos em altas altitudes e rotas polares.
-
Exemplos: risco cumulativo de câncer de pele, catarata e neoplasias hematológicas.
Como prevenir ou mitigar essas patologias
A prevenção está ligada a um conjunto de hábitos saudáveis e medidas ocupacionais:
Para distúrbios osteomusculares
-
Alongamentos antes e após os voos.
-
Fortalecimento da musculatura lombar e abdominal.
-
Ergonomia na cabine e técnicas corretas de levantamento de peso.
Para doenças cardiovasculares
-
Hidratação constante.
-
Caminhar ou movimentar pernas em voos longos.
-
Estilo de vida saudável: não fumar, controlar pressão e colesterol.
Para problemas auditivos
-
Uso de headsets com cancelamento de ruído.
-
Exames audiométricos periódicos.
Para alterações visuais
-
Colírios lubrificantes contra olho seco.
-
Óculos com proteção UV.
-
Acompanhamento oftalmológico regular.
Para problemas respiratórios
-
Evitar voar com resfriado ou sinusite grave.
-
Uso de solução salina nasal.
-
Vacinação atualizada.
Para distúrbios gastrointestinais
-
Alimentação leve antes e durante os voos.
-
Evitar excesso de refrigerantes e alimentos fermentativos.
Para saúde da pele
-
Uso de hidratantes neutros.
-
Higienização ao final dos turnos.
Para sono e saúde mental
-
Higiene do sono (ambiente escuro, sem telas antes de dormir).
-
Técnicas de relaxamento e mindfulness.
-
Apoio psicológico e políticas de gerenciamento da fadiga (FRMS) pelas empresas.
Para radiação cósmica
-
Monitoramento ocupacional da dose anual.
-
Escalas que evitem excesso de rotas polares ou de alta altitude.
Conclusão
A saúde dos tripulantes de aeronaves é essencial não só para a qualidade de vida desses profissionais, mas também para a segurança de voo. Ao adotar medidas de prevenção — desde a hidratação adequada até o gerenciamento do sono e do estresse — é possível reduzir significativamente os riscos associados à atividade aérea.
📚 Bibliografia de consulta
-
INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION (ICAO). Manual of Civil Aviation Medicine. 3rd ed. Montreal: ICAO, 2012.
-
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Health and Safety Aspects of Air Travel. Geneva: WHO, 2017.
-
SCURR, J. H. et al. Frequency and prevention of symptomless deep-vein thrombosis in long-haul flights: a randomised trial. The Lancet, v. 357, n. 9267, p. 1485-1489, 2001.
-
KUCUK, O. F.; DOGAN, M. Air Travel and Risk of Venous Thromboembolism. Eurasian Journal of Medicine, v. 51, n. 3, p. 309–314, 2019.
-
HARRISON, T. R. Harrison’s Principles of Internal Medicine. 20th ed. New York: McGraw-Hill, 2018.
-
COHEN, B. S.; MANSFIELD, J. R. Aviation Medicine. 4th ed. London: Butterworth-Heinemann, 2019.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo seu comentário!!!!
Marcuss Silva Reis