Em um setor tão sensível e regulado quanto o da aviação civil, decisões erradas não se traduzem apenas em perdas financeiras — elas podem custar vidas. A aviação é uma atividade altamente técnica, regida por protocolos rigorosos e padrões internacionais de segurança. Por isso, colocar pessoas sem experiência prática ou formação adequada em cargos estratégicos ou operacionais dentro de aeroportos e órgãos de gestão aeronáutica é uma escolha perigosa e irresponsável.
A estrutura de um aeroporto, por exemplo, não é apenas um terminal bonito ou um projeto de infraestrutura urbana. Ele é uma engrenagem complexa que envolve controle de tráfego aéreo, gestão de segurança operacional (Safety e Security), certificação, manutenção de pistas, pátios, auxílios à navegação e integração entre companhias aéreas, concessionárias e autoridades reguladoras. Cada decisão operacional deve ser técnica, baseada em dados, relatórios e protocolos previstos pelo Anexo 14 da ICAO e pelo RBAC 139 da ANAC — normas que garantem a operação segura de cada voo.
Quando cargos técnicos são ocupados por indicações políticas, sem que o ocupante compreenda a linguagem e a lógica operacional do setor, o resultado é previsível: decisões equivocadas, atrasos em respostas a emergências e compromissos que priorizam interesses eleitorais em detrimento da segurança e da eficiência.
Um exemplo clássico é a gestão de crises aeroportuárias — como interdições de pista, falhas em equipamentos, incidentes de segurança ou eventos climáticos severos. Nesses momentos, a diferença entre uma resposta rápida e eficiente e um colapso operacional está justamente na experiência técnica da equipe de comando. Um gestor sem histórico na aviação pode hesitar, buscar orientações políticas ou tomar decisões baseadas em percepções equivocadas, comprometendo a segurança de passageiros e tripulações.
Além disso, a presença de políticos em cargos técnicos pode desmotivar profissionais qualificados da carreira aeronáutica — engenheiros, controladores, técnicos de manutenção, gestores aeroportuários — que dedicam anos de estudo e prática para alcançar tais posições. A substituição do mérito pela conveniência política fragiliza toda a estrutura institucional do setor e gera um efeito cascata de ineficiência.
A aviação é, por natureza, um ambiente onde o erro não é tolerado. Cada decisão deve ser tomada com base em evidências, experiência e treinamento contínuo. A lógica política, por outro lado, costuma estar ancorada em agendas pessoais, trocas de favores e visibilidade pública — valores que são incompatíveis com a disciplina técnica que o setor exige.
Por isso, é essencial que cargos estratégicos em aeroportos, órgãos reguladores e empresas públicas de aviação sejam ocupados por profissionais com formação comprovada, vivência operacional e comprometimento com a segurança de voo. A aviação brasileira já demonstrou ao longo da história sua capacidade de operar em altíssimo nível técnico — mas isso só é possível quando o conhecimento e a experiência prevalecem sobre o interesse político.
Em última análise, a presença de políticos em posições técnicas não representa apenas uma ameaça à eficiência administrativa. Representa, sim, um risco direto à segurança operacional e à credibilidade da aviação nacional — algo que nenhum país sério pode se dar ao luxo de comprometer.

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Marcuss Silva Reis