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segunda-feira, 3 de novembro de 2025

O Dia em Que o Céu Me Aceitou

 




O primeiro voo solo que marcou para sempre o início de uma jornada nos céus.

Nos dias de hoje, sempre que assisto a um vídeo de um voo solo publicado nas redes sociais — com câmeras minúsculas captando cada detalhe e smartphones registrando o instante exato da decolagem —, inevitavelmente me transporto para o meu próprio solo.
Naquela época, não havia tecnologia para gravar. O que tenho é uma lembrança viva, gravada em película fina na memória, de um sábado nublado de outubro, por volta das 15h ou 16h, no Aeroclube de Nova Iguaçu.

Saí de casa sozinho. Chamei meu pai para ir comigo, mas ele preferiu ficar. Talvez pressentisse a importância daquele momento ser apenas meu.
Naquele dia, eu voava a PS-10, ainda com arredondamentos inconstantes — ora bons, ora desastrosos. Meu instrutor era o Castro, um homem calmo, paciente, de uma serenidade quase pedagógica. Já havia passado pelas mãos exigentes de Pergentino e Peter, mas coube ao Castro o papel mais delicado: refinar meu voo para o solo.

A aeronave era o PP-HST, um híbrido de P-56 com CAP-4. Pequena, apertada, incômoda. Eu mal cabia dentro dela, mas o solo teria de ser naquele avião. Decolamos juntos, e, após quatro pousos, já me sentia seguro. No final do quarto, ele pediu:
Faz esse final e taxia.

Achei que a missão estava encerrada. Quando parei o avião, ele disse com voz tranquila:
Para ali na cabeceira.

Meu coração acelerou. Pensei: “Será que é agora?”

Ele me olhou firme e disse as palavras que mudariam minha vida:
Meu garoto, agora é com você. Vai lá, faz seu voo. Dá uma volta no circuito e pousa. Se tiver qualquer problema, arremete e tenta de novo. Sem pressa. Com calma. Você está pronto.

Ele desceu da aeronave, fechou a porta e se afastou.
Naquele instante, algo mudou. O avião deixou de ser apertado. O cockpit, que antes parecia um desafio, se tornou um abrigo. Respirei fundo, fechei a janela e, com o coração em compasso com o motor, avancei o manete.

Acelerando pela pista, mantive a reta com os pedais, aliviei o manche e, de repente, estava voando sozinho.
Subi a 500 pés, iniciei a curva à esquerda, e continuei até 1000 pés, ingressando na perna do vento. Lembrei das instruções do Castro — “obedeça, depois comande” — e cumpri cada uma delas.
Na base, reduzi potência, alinhei na final. Cruzei a cabeceira a 500 pés, reduzi o motor e comecei o arredondamento. Estava alto demais. Arremeti. Recomecei.
Na segunda tentativa, tudo fluiu. Alinhei, toquei suavemente e completei meu voo solo.

Foram apenas quinze minutos, mas os mais importantes da minha jornada.
Quinze minutos em que venci a insegurança, a dúvida e o medo. Quinze minutos em que me tornei piloto de verdade.

Tenho apenas duas fotos desse dia — uma de mim caminhando na pista após o pouso, e outra ao lado do Castro. Ambas já desbotadas pelo tempo; uma delas, perdida entre gavetas. Mas nenhuma câmera teria capturado o essencial: a emoção de ver o chão se afastando pela primeira vez sem ninguém ao meu lado.

Treze dias depois, voltei ao aeroclube. Confirmei meu solo com um voo de 00:25 em duplo comando e 00:50 sozinho.
Voltei para casa naquele sábado nublado com um brilho nos olhos e o coração em festa. Contei tudo ao meu pai, que me ouviu com um sorriso contido — desses que misturam orgulho e respeito pelo silêncio do céu.

Hoje, quando vejo vídeos de solos modernos, penso:
“O meu filme não está no YouTube. Está projetado na memória, e passa, de vez em quando, quando olho para cima.”

E é sempre o mesmo céu.
O mesmo sábado nublado de Nova Iguaçu.
O mesmo instante em que o céu, generoso, me disse:
Agora é com você.

A partir daquele voo, concluí minha instrução, chequei o PP e, pouco tempo depois, fui voar o PT-LOI no Aeroporto Santos Dumont — mas essa já é uma outra história. ✈️

Marcus silva Reis

7 comentários:

  1. Parabéns 👏 👏 👏 Estamos juntos há 16 anos e acompanho sua paixão pela aviação. É emocionante e inspirador.

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  2. É impossível ler suas histórias sem me transportar para os cenários que você descreve, sentindo e enxergando cada momento como se estivesse lá.
    As melhores cenas da vida ficam guardadas na memória — sem ostentação, sem precisar mostrar a ninguém — apenas preservadas no nosso íntimo.

    Parabéns pelos seus 63 anos, Marcão! Que venham muitos mais, cheios de boas histórias e momentos bem vividos.

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  3. Lembranças que estarão em seu coração por toda a vida e além.

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  4. Não é anônimo não. É Nelson Oro

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  5. Muito bom. Só quem já passou por tal momento, consegue Aquilar a sensação de ser solado. "Agora e contigo, mostre o que vc sabe fazer....."

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Obrigado pelo seu comentário!!!!
Marcuss Silva Reis