Quem viveu a Skylab no subsolo do Santos Dumont sabe: ali era mais do que uma escola de aviação — era um laboratório vivo,um cenário de filme, onde se forjava o piloto “no cheiro do querosene”. Os alunos subiam a escada rígida entre uma aula e outra só para ver o movimento no saguão e sonhar com o futuro. Aquilo erá magico.......
Foi nesse ambiente que vivi mais uma das histórias de instrução de voo (que conto no www.institutodoaraviacao) do tempo que passei lá.
O aluno vindo do Norte — e o briefing inesperado
Seu Alex me chamou depois da aula e mandou a missão:
— “Marcuss, esse rapaz aqui veio do Norte. Já voa. Não sei como, não sei onde… mas voa. Agora precisa tirar as carteiras. Faz um voo com ele, vê o que ele sabe e vai enquadrando no padrão. Você começa… e depois o Chiquinho afina ele.”
Bati o olho no sujeito e pensei:
“O macho voava…”
E pensei comigo:
“Esse aí deve ter aprendido a voar sentado num latão de gasolina, em vez de um banco. A gente conhecia as barbaridades que aconteciam na aviação do Norte…no garimpo”
Mas vamos lá.
Checklist, confusão e o início da aventura
Chegamos ao avião.
Entreguei o checklist e cantei:
— “Bora lá… segue o baile!”
Ele não sabia nem por onde começar.
Ficou olhando o checklist como quem encara um mapa em mandarim.
Mostrei tudo pacientemente: dreno, inspeção, sequência, lógica.
Aí sim conseguimos seguir.
Dentro da cabine… começa o show
Entrei na cabine e me amarrei(passei o cinto).
Ele entrou, bateu a porta… e arriou o encosto da cadeira como quem vai assistir novela na televisão.
— “E o cinto? E o banco na vertical?”
— “Íxe, chefe… assim eu num sei voar, não. Eu voo é com o banco baixo.”
E pensei:
“Tá explicado… padrão garimpo. O macho voava em cima dos sacos e, quando voltava vazio, assumia o comando sentado na tal lata de gasolina (risos).”
Expliquei:
“Você precisa aprender a seguir um padrão. É isso que o checador da FAB espera no voo de cheque.”
E pensei comigo:
“Isso vai dar trabalho…”
Primeira aproximação para Jacarepaguá — e o desastre anunciado
Decolamos e fomos para Jacarepaguá.
Quando girou de base para final, falei:
— “Está alto!”
E ele:
— “Tá nada, chefe!”
Mas estava alto… muito alto.......
Quando percebi que ele ia porrar o avião, não pensei duas vezes:
— “TÁ COMIGO!”
Arremeti na hora.
Ele resmungou:
— “Chefe, assim eu num sei. Eu sei é com o banco arriado e cinto frouxo.”
Respirei:
— “Então faz uma do seu jeito. Quero ver.”
Ele reclinou tudo, afrouxou o cinto, relaxou…
E fez um pouso perfeito.
Perfeito!
A rajada que ensinou mais que qualquer instrutor
No circuito seguinte ele estava todo relaxado outra vez.
E eu pensando como ia corrigir aquela postura…
Aí veio a resposta da própria aviação e do universo.
— “Se vier uma rajada lateral assim…”
POW!
A rajada girou o avião violentamente para a esquerda e quase entrou no dorso.
Corrigi rápido.
E ele, solto como bandeira ao vento, bateu a cabeça no vidro lateral.
— “Ai, chefe que doido você acabou de falar !!!!!!!!… agora eu vi…”
E Viu mesmo, bateu com gosto (Rs).
Conclusão — e a lição do garimpo
Depois dessa, ele até entrou nos eixos.
Levou um tempo — mais do que ensinar um aluno do zero —, mas checou, agradeceu e seguiu a vida.
Mesmo engraçada, a história mostra algo sério:
voar exige padrão, disciplina e técnica.
E eu ganhei mais uma história para contar no www.institutodoaraviacao.com.brInstituto do Ar:

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Marcuss Silva Reis