Introdução: o silêncio que antecede o risco
Em muitos eventos de incidente ou acidente, existe um elemento comum: o silêncio.
Aquele silêncio desconfortável que surge quando alguém percebe algo errado, mas escolhe não falar.
Por medo de incomodar, de parecer exagerado ou simplesmente por acreditar que “não deve ser nada”.
Esse comportamento, embora comum, cria um dos riscos mais perigosos para a segurança operacional — especialmente na aviação.
Comunicar é prevenir. E a palavra certa no momento certo evita o acidente.
Por que o silêncio é tão perigoso para a segurança operacional
A segurança não se sustenta apenas em tecnologia, procedimentos ou regulamentos.
Ela depende, sobretudo, de comunicação clara e tempestiva.
Quando uma pessoa deixa de alertar sobre algo suspeito, três situações acontecem:
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Perde-se uma camada de defesa.
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A cadeia de erros continua avançando.
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O risco cresce sem oposição.
Grande parte dos acidentes já investigados revela que alguém tinha percebido o problema, mas optou por não dizer nada.
Esse é o tipo de falha humana mais difícil de identificar — e também uma das mais simples de prevenir.
Avisar não é ser chato: é cultura de segurança
A cultura de segurança moderna insiste na mesma ideia:
Se percebeu, fale.
Alertar sobre riscos não é inconveniente, não é crítica e não é falta de confiança.
É uma atitude profissional, madura e totalmente alinhada às melhores práticas internacionais de prevenção de acidentes.
Dentro de uma aeronave, em um hangar, no aeroporto ou em qualquer ambiente de trabalho, comunicar algo estranho deve ser encarado como comportamento padrão — não como exceção.
Quando alguém fala, todos ficam mais protegidos.
Segurança é responsabilidade compartilhada
Segurança operacional é um trabalho coletivo.
Ela depende da soma de pequenas ações, de percepções individuais e de decisões tomadas no momento certo.
Ao contrário do que muitos pensam, acidentes raramente acontecem “de repente”.
Eles se constroem passo a passo, numa sequência chamada cadeia de eventos.
E essa cadeia pode ser interrompida por algo simples:
➡️ uma frase
➡️ um aviso
➡️ uma dúvida expressa
➡️ um pedido de verificação
A prevenção não está apenas nos manuais — está no ambiente onde todos se sentem autorizados a falar.
Cultura de comunicação: o maior investimento em prevenção
Criar e reforçar uma cultura onde as pessoas se sintam seguras para questionar é uma das estratégias mais eficazes para reduzir incidentes.
A aviação já comprovou isso ao longo das décadas:
Cockpit Resource Management (CRM), gestão de ameaças e erros (TEM) e comunicação assertiva são pilares fundamentais da segurança moderna.
Quanto mais pessoas falam, mais seguro o sistema se torna.
Conclusão: a palavra que interrompe a cadeia do acidente
O silêncio pode custar caro.
A comunicação, ao contrário, salva vidas.
Ao perceber algo errado, fale.
Ao sentir que algo não está normal, pergunte.
Ao identificar risco, avise.
Porque avisar não é insistência —
é responsabilidade, é atitude, é segurança.
E nunca se esqueça:
“A palavra certa no momento certo evita o acidente.”
A “engolida de sapo” que salva tripulações inteiras
Às vezes, para manter a segurança, é preciso engolir o ego.
Ouvir uma resposta atravessada.
Aceitar uma ironia.
Ser subestimado naquele momento.
Mas se o que você disse evitou um erro, identificou um risco ou interrompeu uma cadeia de eventos perigosos, então valeu — e muito
Marcuss Silva Reis
